Sou demasiado preguiçosa e desorganizada para manter um moleskine. Algumas tentativas pesaram-me na mochila, desfazendo-se em vazios de ideias e listas de compras. só lhes sinto a falta quando não os tenho à mão. hoje, aguardando a minha vez de ser atendida no quinto piso de uma soturna torre num hospital de lisboa, embalo sonolenta a fila de cadeiras de plástico em que me sento, num movimento autista de auto-consolo que propicia a modorra e suaviza a espera, quando atento no aviso colocado ao lado do elevador: em caso de incêndio, utilize as escadas. vêm-me à memória imagens de um inesquecível steve mcqueen na torre do inferno, vislumbro as labaredas desgovernadas a propagarem-se no poço do elevador. de seguida, dou por mim a inventariar alternativas perante o cenário proposto. naquela torre, assim de repente, lembro-me que funciona um serviço de otorrino e um de oftalmologia. imagino os doentes de olhos vendados a lançarem-se em tropel pelas escadas, gritando aos surdos que lhes indiquem o caminho ou que lhes saiam da frente. pergunto-me se também funcionará ali uma unidade de tetraplégicos. meia adormecida e a curtir os meus devaneios semi-febris, penso então nos poços do elevador cheios de grandes escorregas coloridos tipo aquapark e colchões de água ao fundo, a amparar a queda. pelo altifalante, ouço chamarem pelo meu nome. vou lá ouvir o que já suspeito desde o início, que estou bem auto-medicada, que convém fazer a pesquisazinha do epstein-barr, não vá o bicho ter-se aproveitado do meu cansaço e tal, e que, no final, me espera um chuto de peninicilina no rabo para exterminar de vez a hipótese de uma recidiva bacteriana. perfeito, adoro quando os médicos concordam comigo. no caminho para casa, rio sozinha dos meus devaneios e prometo tentar salvá-los do limbo dos meus rascunhos mentais. mal ou bem, saíram de rajada e continuo a divertir-me. aqui ficam.
quarta-feira, junho 18, 2008
e nem falei das flores de plástico da sala de espera
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agora não se habituem,
ai a minha vidinha,
devaneios delirantes
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3 comentários:
Este texto esta' muito bom, adoro quando me fazes destas surpresas!
:D
obrigada, deve ser da febre. ;P
é isso mesmo! (como diz a scarlata)
:-)
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