terça-feira, setembro 04, 2007

escrevo-te a sentir tudo isto
e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de prata da
fotografia
poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurrados junto
ao fogo
e deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva do lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco morde a
sua imobilidade

habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar


Al Berto

4 comentários:

© Maria Manuel disse...

mesmo quando nela encontramos sinais de algum desencanto, é sempre bela a poesia de Al Berto!

B. Dante disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
B. Dante disse...

Eu acho que todo ele é desencanto,não apenas sinais,e é isso que faz com que a poesia dele seja tão bela.

bookworm disse...

concordo contigo, beatriz.