quarta-feira, maio 07, 2008

ainda sobre a democracia e a ignorância dos jovens

Não era muito jovem o nosso Presidente e orgulhava-se de não ler jornais. Não ia a debates, tratava a contestação à bastonada e quem lhe fazia frente era visto como força de bloqueio. Foi por isso com algum espanto que ouvi o seu lamento pela suposta descrença dos jovens na democracia. Que descanse Cavaco. Até ele teve de esperar pela idade madura para a compreender plenamente.
Os jovens sabem menos do que os seus pais sobre o 25 de Abril? É natural. Não o viveram. Quanto à democracia, o estudo encomendado pela Presidência não nos devia perturbar. Os jovens não se excitam com o voto. E quem os pode censurar? Não são os próprios governantes a repetir até à náusea que tudo é inevitável? Por causa da União Europeia, por causa do défice, por causa da globalização dos mercados, por causa do Leste e da China, por causa da competitividade… Se quem é eleito garante que não há alternativas como pode querer que os jovens eleitores percebam o valor da escolha? Que se identifiquem com a esquerda ou com a direita quando isso é irrelevante na hora de governar? São práticos os nossos jovens; as distinções ideológicas só valem alguma coisa se tiverem tradução prática. E são lúcidos: o voto é o mínimo dos mínimos em qualquer democracia. Mas não lhes chega. Parece que assinam petições e boicotam produtos. Bom sinal. Acreditam que a democracia é uma coisa que se usa todos os dias. Se assim for, perceberam, apesar de tudo, o essencial do 25 de Abril.
Daniel Oliveira

Sem comentários: