terça-feira, fevereiro 26, 2008

sublinhados de leitura - jerusalém # 3

Com dezoito anos Mylia sabia já como humilhar os homens. Conhecia o intervalo existente entre a sedução e a repulsa e sabia manipular esse espaço: reduzindo-o, ampliando-o, fingindo que ele não existe para logo a seguir o exibir de modo ostensivo. Só se humilha quem se aproxima, sabia já por instinto Mylia, e preparava-se assim para exercer essa habilidade perversa - de puxar primeiro para depois empurrar - sobre aquele médico que avançava, logo nos primeiros segundos após a saída dos seus pais, para algo que Mylia receava e desejava: um interrogatório.
- Sou esquizofrénica - disse ela, sem deixar que o médico Theodor Busbeck abrisse a boca. - Li nos livros. Sei bem o que sou. Sou esquizofrénica, louca. Vejo coisas que não existem e sou perigosa. Quer-me curar?

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