segunda-feira, maio 14, 2007

Apesar de tudo, a vida é agradável, tolera-se. À segunda segue-se a terça e depois a quarta. A mente constrói anéis; a identidade torna-se mais robusta; a dor é absorvida no processo de crescimento. Sempre a abrir-se e a fechar-se, zumbindo cada vez mais, a velocidade e a febre da juventude são aproveitadas para o trabalho, até o ser nada mais parecer do que o mecanismo de um relógio. Com que velocidade a corrente segue de Janeiro a Dezembro! Somos arrastados por tudo aquilo que se nos tornou tão familiar que não chega a projectar sombra. Flutuamos, flutuamos...

(...)


À segunda segue-se a terça, depois a quarta e a quinta. Cada dia espalha a mesma onda de bem-estar, repete a mesma curva de ritmo; cobre a areia fresca com um arrepio ou constrói uma pequena teia de espuma. E é assim que o ser começa a deixar crescer anéis, a identidade torna-se mais robusta. Aquilo que antes era furtivo como um pequeno grão lançado ao ar e soprado de uma lado para o outro pelas rajadas fortes da vida, passa a ser agora atirado de forma metódica numa direcção precisa, obedecendo a um objectivo - pelo menos é o que parece.


Virgínia Wolf - As Ondas

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