Quando anoiteceu e acenderam os lampiões, sentou-se à mesa e colocou à frente o caderno em que fizera todas aquelas rápidas anotações.
Mas por muito tempo não leu nada. Passou a mão pelas páginas, e era como se delas subisse um delicado aroma, como alfazema entre velhas cartas. Era a ternura misturada com a melancolia que dirigimos às coisas já passadas, quando, na suave, pálida sombra que delas emerge, com flores murchas nas mãos redescobrimos esquecidas semelhanças connosco próprios.
E essa nostálgica, delicada sombra, esse perfume fanado pareciam perder-se numa ampla, densa e cálida torrente - a vida, agora aberta diante de Torless.
Uma fase encerrava-se, a alma formara mais um anel, como na casca de uma árvore jovem. Essa sensação poderosa, para a qual não havia palavras, desculpava tudo o que acontecera.
Robert Musil - O Jovem Torless
sexta-feira, janeiro 05, 2007
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