quarta-feira, dezembro 27, 2006

- Às vezes, penso no meu isolamento voluntário e acho um inferno. Que já estou morto, apesar de não o saber. Mas estou bem. Revi o meu passado, agora que tenho as "respostas".

- Não parece muito divertido.

- Precisamente, Marianne. Não é. Mas quem raio é que disse que a maldição tinha de ser divertida?

- E o que dizem as "respostas"?

- Queres mesmo saber?

- Perguntei, não perguntei?

- Que a minha vida tem sido uma merda. Uma vida idiota e sem sentido.

- O nosso casamento faz parte do teu inferno?

- Para ser sincero, faz.

- Lamento ouvir isso.

- Uma vez um padre disse-me que uma boa relação tem dois componentes: uma amizade sincera e um erotismo inabalável. Ninguém pode dizer que não éramos bons amigos. Bondosos e capazes.

- Bons amigos.

- Sem dúvida.

- Tu eras infiel. Eu era tão...

- Eu também.

- Tão triste.

- Mas foi há tanto tempo.

- Ainda é doloroso.

- Para mim, não.

- Não, suponho que não.

- Querida Marianne.

- És tu quem o diz.

- Pois sou. É bom estar aqui contigo. De mãos dadas, a olhar para esta vista magnífica. Sem falar de coisas dolorosas.

- És tu que estás a agarrar a minha mão.



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